terça-feira, julho 03, 2007

Capítulo 2 - Parte 2

Miguel ficou assustado com a afirmação do velho homem, que segurava um martelo com a mão direita. A cada descida de seu braço musculoso, um barulho agudo tomava a oficina, juntamente com um calor estranho que começou a fazer com que o garoto suasse. Miguel permaneceu em silêncio por algum tempo observando, atento, os movimentos do artesão.

Este começou a andar pela oficina e o garoto pode ver o que aquele corpo enorme escondia. Era um pedaço grande de ferro, aparentemente e ao fundo um forno com uma cor amarela brilhante. Miguel fechou um pouco os olhos para conseguir enxergar, era algo novo, nunca tinha visto. Olhando em volta, só conseguiu identificar barras de ferro mas enxergava vários outros objetos, no entanto sem identificá-los. Quando se deu conta, escutou.

-Você sabe o que eu faço?
-Não, senhor.
-Sou artesão. Sabe o que significa isso?
-Não, senhor.
-Quer aprender?
-Não sei, senhor.
-Vá embora! Só volte quando souber!

Miguel se assustou com o tom elevado de voz e as pressas, disse:

-Eu quero, senhor.
-Quer o que?!?
-Aprender, senhor.
-Volte amanhã depois da aula, com um jeans e uma camiseta velha. Vá!
-Mas...
-Sem mas! Amanhã! Vá!

Miguel correu. Seus amigos já não estavam mais no campo de bolinha de gude. Correu para casa assustado e curioso.

A sensação que sentira aquele dia, era a mesma que acabara de sentir na cobertura de seu prédio. Estava emocionado ao lembrar do senhor Fabrízio, mas algo lhe incomodava. Continuou a ler a velhas páginas.

No dia seguinte, após a aula, o garoto voltou à oficina. Com seu passo tímido atravessou o pátio e ficou parado na entrada da oficina procurando o velho homem e foi surpreendido com aquela voz grave que vinha atrás dele.

-Entre! Temos muito a fazer.
-Mas...
-Sem mas! Entre! Existirá o tempo certo para as perguntas.

Durante os próximos oito anos, Miguel foi o melhor dos aprendizes. Conseguira absorver todo o conhecimento do velho mestre e via nele a figura paterna que lhe fora tirada tão cedo e tão bruscamente. Sempre lhe pedira orientação e conselhos, que sempre eram expressados com enorme sabedoria pelo já vivido artesão.

No entanto uma página de outra cor em seu diário lhe chamara atenção. Só foi preciso ler a primeira linha para se lembrar, talvez do momento mais marcante que ocorrera naquela oficina durante os oito longos anos.

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